Sentimentos assincrônicos. Leve taquicardia que leva ao
rosto um rubor. Mãos incham e palpitam.
Sigo andando todas as milhas que devo percorrer neste
maldito dia. Sento-me à sombra, na espreita, à espera de um homem que nunca
vem. Não sei se um X ou um Y marcam essas ruas sem saída.
Observo a arquitetura da nesga, trincada em um terreno de
vidro, emoções asfixiadas loucas para sair. Ele está vindo, faltam algumas
horas.
Aguardo, aguardo, nunca vem. Cada segundo um dia inteiro,
cada dia, uma semana inteira, cada semana... observo o sol batendo na
rachadura, a nesga iluminada, estreito caminho de cor que ainda hei de
percorrer – com as mãos inchadas, o peito apertado, as pupilas dilatadas.
Deito-me à grama, espero a semana passar. Largo pedaços de
mim às plantas. O que esperar de um vestido branco jogado em um jardim de
inverno? Nada. Nada mesmo.
Corro para todos os lados, o peito aperta a cada segundo, a
vontade de tudo e de todos, a loucura exposta aos visitantes, as cores na
rachadura. Nada faz sentido para quem não faz parte do clube de decepções,
junção esta formada por um pequeno grupo de pessoas que se identificam pelas
mãos inchadas em dias de calor.
Não há nada mais que eu possa fazer. Gostaria de tomar um
café? Um chá? Leite morno com gotas de limão? Alice, prepare-se, neste mundo em
que coelhos correm e gatos riem no escuro, os segundos duram dias, os dias
duram semanas, e você voltará inteira, nenhum chapeleiro maluco há de roubar
pedaços do teu cérebro.
Volto-me para a rua de chão batido, volto a observar a
nesga, o terreno de vidro. Quanto tempo levará até que essa rachadura quebre de
vez e este arco-íris volte a repousar nos braços do homem que hei de esperar?
Sentimentos assincrônicos. Leve taquicardia que leva ao
rosto um rubor. Mãos incham e palpitam.
Delírios claustrofóbicos de calor me fazem soluçar. “Onde
fica o banheiro deste lugar?” “No corredor, ali, a vinte quadras de distância” “Você
pode me alcançar um copo d’água?” “Sim, claro, se estiver um pouco amarga é
porque gostamos de enganar”.
Ah, quem dera todo ledo engano fosse assim distante. O rubor
passa. As mãos estão menos inchadas. “Desculpe, a estrada é longa”. Travo os
caminhos da conversa e lanço mão da espera. Cedo meu lugar ao idoso, faço-me ir
embora.
Odeio filas em agências bancárias.