terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Da fé, do amor e do lar.


Tantas eram as maneiras de fazê-lo, mas Marina não sabia por onde começar. Tinha medo, estava apreensiva. Procurou o grass que estava escondido. Queria ouvir Pete Doherty cantar. Ligou para sua melhor amiga, 52 minutos a falar. Pensou na corda, pensou na faca, no estilete, na tesoura, na pistola e no 8º andar.
Pessoas muito mais problemáticas andando pelas ruas e Marina pensando em se matar.
Luzia, que era louca de verdade, gostava de viver. Para ela cada dia era um dia diferente, o que a chateava era sempre o mesmo lugar. Aqueles muros e paredes, os amigos incompreendidos, as visitas mensais da mãe – e semanais da melhor amiga de escola – a chateavam profundamente.
Marina pensou melhor e saiu para caminhar. Bairro bom, Moinhos de vento. Andou pela Goethe, 24 de outubro, Doutor Timóteo... decidiu pegar o ônibus. Desceu na parada do hospital psiquiátrico. Deu umas voltas por ali, achou um tanto quanto sinistro, quis voltar, mas não pode deixar de reparar em uma menina loira, muito branca, de profundos olhos verde-mar.
Luzia tinha mais um dia comum, porém, de sua janela, via uma moça chorosa, com muitas olheiras, pele amorenada, olhos cor de mel. Acenou com sentimento de esperança.
Marina se concentrou nos olhos, que estavam longe, mas de alguma maneira sorriam para ela.
Luzia entristeceu de a moça não retornar seu gesto. Saiu da janela.
Marina saiu correndo até a parada, pegou o ônibus de volta. Dessa vez foi até a Zona Sul. Andou pela orla do Guaíba, foi até a avenida Praia de Belas. De lá, caminhou até o centro, cansou. Pegou o ônibus até sua casa, sem esquecer os profundos olhos verde-mar.
“Luzia, querida, hora do chá”. Ela não esquecia da moça.
Marina lembrava toda noite daqueles olhos.
Uns olhos. Uns braços. Cabelos ao vento.
Luzia havia recebido a noticia de que logo sairia de lá.
Arrepios. Era o vento minuano.
Corre, Marina, não te atrasa! Mas te cuida, olha que o ônibus pode te atropelar.
Olívia andava distraída ouvindo músicas em seu celular, quando uma moça apressada passou correndo em sua frente, quase lhe derrubou.
Era na manhã de domingo que o médico assinaria sua alta. Só mais uns dias e Luzia encontraria a liberdade.
“Olívia, tudo bem com você?” “Tudo mãe” “Tem certeza?” [...]
18h. Vamos, Marina, hora de sair do teu trabalho medíocre e ir para casa.
Amanhã é domingo.
Na Visconde do Herval, Olívia e a família de Luzia a esperavam sorridentes.
Luzia chegou e abraçou Olívia. Estava tão feliz por estar em casa, perto das pessoas que ama.
Olívia estava tão bonita. Estava com os cabelos pretos em um corte chanel. Vestido vermelho e um sapatinho azul royal , uma fita – do tom do sapato – amarrada no cabelo. Se os pais ali não estivessem, a encheria de beijos e carícias.
“Luzia, que tal irmos ao parcão após o almoço?” “Se meus pais estiverem de acordo...” “Filha, você se sente segura para ir sozinha com Olívia? Se quiseres, vamos todos juntos.” “Tudo bem mãe, mas se não for pedir demais, será que podes nos buscar de carro ao anoitecer? Eu e Olívia vamos de ônibus, a volta é que fica complicada”
Marina tinha o dia de folga e chamou Sophia, sua melhor amiga, para passear no parcão.
Eu não tinha vontade alguma de largar a mão de Luzia. Quantas saudades daquelas mãos delicadas, brancas, pequenas, castas... quantas saudades da alegria que elas me proporcionavam. Queria beijá-las até enlouquecer, queria fazê-las minhas. Luzia era minha, e ninguém nesse mundo me faz tão feliz!
Parou para amarrar os sapatos e, quando levantou-se, viu os olhos. Profundos. Verde-mar. Era ela. “Muito obrigada” E beijou-lhe o rosto. “Você me salvou de uma grande tragédia”
Luzia reconheceu a morena entristecida e só soube lhe dizer “você deveria ter acenado de volta”.
Partiram. Cada qual com sua amiga, seus problemas. Cada uma para seu lado. “Tudo bem, meu amor?”
Olívia beijou Luzia como quem desse o último beijo da vida, passou a mão dentre as madeixas loiras e embaraçadas da amiga e sentou-se em um banco a chorar. Luzia se ajoelhou à sua frente: “calma querida, tudo vai passar...”

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Cardápio


Foram-se as duas e com elas minhas expectativas.
De vida.
De morte.
De dinheiro.
De futuro bom.
Li tua visão através de um espelho quebrado, me sinto lisonjeado.
A outra, face do prazer.
Prazer, me chamo Laisa.
Chegaram outras duas e não mais achei as expectativas.
A vida lida é mais bem compreendida.
Escrita é difícil, mas pior é ser vivida.
Vocês sabem o que significa epifania?
“Tem a ver com física?”
Metafísica talvez, querida.
Que bobas essas meninas de hoje em dia.
Aceitas um chá? “Que coisa de velho”
Desculpa se você gosta de mim assim, com 33 anos.
“Não disse que gosto de você, você é bom no que faz, só isso”
Desculpa mocinha, se você não sabe escrever.
Ela sabia desde sempre onde haveria de se meter.
Nunca mais como minha vizinha.

sábado, 20 de outubro de 2012

Sala Redenção


Talvez ele estivesse lá fora, ela não sabe, ainda não saiu.
Ele não queria saber se ela estava lá dentro, se quisesse, teria ao menos espiado.
Eram 11 fileiras, ela estava na sexta, logo abaixo do projetor.
O filme movia as personagens ao som das moedas e o brilho do diamante.
Não era triste, mas ela queria chorar.
Não era triste, mas ele lembrava daqueles que já haviam morrido.
O filme acabou e o sol batia na porta da sala redenção.

domingo, 30 de setembro de 2012

De outras Bárbaras


Chico cadê? Chico Sumiu!
Anaura cadê? Anaura caiu!
Chico cadê? Chico saiu!
Bamboleia moça que nasceu em Abril

Meti-me em festa de São João
Comendo pipoca, tomando quentão
Lá bati com o Chico que veio dançar
Cantou-me um verso de arrepiar

Nesse verso dizia que a banda passava
Com ela o amor que o mundo levava
Que alma mais triste de moça cansada
O Chico sabia mui bem, era Bárbara.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

A Bela do Lago

Quando os meninos correram e eu fiquei, senti que algo era diferente. Talvez eu não fosse tão gente. Talvez eu fosse ninguém.


De pele alva e olhos mui chorosos, em dias de chuva, o azul acinzentado ficava meio violeta. De cabelos negros e largos, longos cachos, coração partido, sentimentos corrompidos, lá eu ia, sozinha, com a ajuda de ninguém.

Eram meninos de outrem. Pertenciam aos outros ou a alguém.

A neblina secava meus olhos e minhas lágrimas mesmo assim caíam... Do outro lado do lago eu a vi. Ruiva dos cabelos largos como os meus, mas ela era nua, como bebê, eu desejei-a por minutos. Ela entrou no rio e me chamava. Ouvia-se de longe sua bela voz.

Seus olhos verdes quase desbotavam e também choravam. Seca. Seios rijos. Bela. Eu a beijei. O beijo da morte, da meia-noite, do jogo das sombras.

Nós afundamos e eu nunca mais subi.

sábado, 7 de julho de 2012

Sós de vela

Freneticamente dancei a música branca que entrava por meu nariz


E uma bela moça passou por minha janela

Era ela! Era ela!

Renata que eu quisera, Vitória que exagera



Depois de umas doses de uísque a solidão acaba

Mas ainda lembro-me dela

O nome composto e o teu rosto

Marcados em nuvens aleatórias



Minha morada já não é boa

Todos foram e deixaram-me nela

Nos quadros o pó, na cama a cadela

Nos meus olhos a tristeza de não ver-te, ó bela.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Simpatia do significado

Amarrei a fita pra não esquecer de você


Pra eu não esquecer do teu sorriso

Daquela piscadinha no corredor

Significa algo?



Lembra que eu desafinei a voz

Que era pra você rir

Pra você gostar do meu humor

Significa algo?



Aquele bilhete que mandaste

Era pra ser sério, mas eu ri

O que dizias com aquilo?

Significa algo?



Aquele cinema que nunca fomos

Ou aquela tarde que você não pode

O teatro de rua contando nossa história

Significa algo?



As bandas na Cidade Baixa

As voltas na Redenção

Tu sonhavas com o Parcão

Significa algo?



Quero te levar pro século XIX

Pra seres minha tísica de cor morta

Pra eu não te tocar e te amar de longe

Significa algo?



Procurei teu nome

Vi tua foto

Senti saudades...

Significa algo?

sábado, 26 de maio de 2012

Tudo o que eu queria para você

Eu queria, ria, escondia, você via


Enquanto ela chorava, eu abraçava uma garrafa de tequila

Dizendo que “yo no soy yo porqué ahí nada es real”

Ela era a mais bela, mas chorava, ninguém entendia.

Dizendo que “i don’t know who you are, but it mixes lust and luxury”

Mas Marta não lembrava no dia seguinte, ninguém lembrava na real.

Mas Marta não lembrava o dia seguinte, ninguém sabia.

Today was the día de los amores, la noche de los lovers

Je ne me souviens pas, pero sé que ontem não era um bom dia para Luzia

Ele ria, ele ria, ele ria, Pedro se divertia, mas ela não lembrava de ontem

E por isso chorava.

Mais uma cerveja e o círculo vicioso se completava.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Luíza e a Banda

“Amor, a bateria está muito pesada.”
“Querida, você não entende de música.”

“Mas amor, dava pra pegar mais leve.”

“Querida, você não entende de música.”

“Arthur, a guitarra deveria ser mais rápida.”

“Luíza, você não entende de música.”

“Arthur, por favor, você também a me criticar?”

“Você também me critica, Luíza.”

“Gu, o baixo está fora do ritmo.”

“Cale a boca, Luíza.”

“Mas...”

“Luíza vá dormir.”

Luíza dormiu e nunca acordou. A banda fracassou.

sábado, 28 de abril de 2012

Ao meu lado

Eu a deixei ir embora


Falando que a amava

Que ela tudo, eu nada

Eu a deixei ir embora



Ela voltou chorando

Falando que não me amava

Que não amava ninguém

E que da vida queria nada



Ah, minha bonequinha de luxo!

Me fazes sonhar e acordar

Me fazes arder em desejo e gozar



Ah, minha amada querida!

Queria um dia poder te tocar

Tocá-la e te ter no mesmo lugar.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Vou Embora

Eu tinha medo de me tornar uma daquelas. Eu ainda tenho.
Eu queria ser uma daquelas. Mas eu tenho medo.
E minha boa conduta? Minha imagem de menina? Se eu me tornar uma daquelas, nunca mais voltarão.
Sendo inteligente eles não vão me querer.
Por que elas são tão frescas? Por que eles gostam tanto de toda essa frescura? Gurias como eu não tem mais vez?
Será que eles têm medo também? Medo de que eu seja melhor? Melhor do que eles? Melhor do que elas?
Será que eu sou tão poderosa? Ou sou apenas muito fraca e tímida pra saber?
Eles gostam de mim ou delas na verdade?
Eu não quero saber, quero saber, quero entender, não quero mais.
E se eu me tornar fútil e descartável, vou ser mais legal?
E se eu continuar assim e não ter alguém ao meu lado?
Crise existencial, irracional, pega no meu pau. É só isso que se quer ouvir.
Eu vou chorar e você não vai saber porquê. Nem eu vou. Mas eu quero.
Quero que me escute, ou melhor, que me veja. Que me veja como as outras e me descubra como sou.
Eu sou melhor que todas elas. Eu sou ninguém perto delas. Eu sou apenas eu chamando sua atenção, por que você não presta atenção?
Está muito distraído. Traído. Submundo de perdição.
Eu vomitei nas suas calças antes de você vesti-la. Eu tenho nojo disso no meio de suas pernas.
Eu tenho mais nojo é daquelas que já passaram por ele.
Eu não gosto de ti.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Janeiro.

- Edu... O que se faz quando se quer alguém impossível de se ter?
- Nada é impossível, Clara.
- Que frase mais auto-ajuda! Já são 5h30... Por que não vamos ali no posto comprar mais cervejas?
- Pode ser.
Edu e Clarinha acabavam de fazer 18 e ela desfrutava desse momento como ninguém. Eles eram primos, nascidos com 2 dias de diferença. Desde crianças se davam bem, na transição para a adolescência, curtiam as mesmas festas, as mesmas músicas. Era Janeiro, calor em Porto Alegre, e o posto 24 horas estava sempre lá para atender aquele pessoalzinho atrás de cerveja gelada, às 5 da manhã.
- Sabe Clara, essa tua história de gostar do professor... é chato. Ele é casado, tem uma filha, a mulher tem cara de louca, é capaz até de te matar se te pegar olhando diferente pra ele! – Edu solta uma risada – Pois ééé... desiste!...
- Eu tento, meu primo, eu tento... mas o que eu posso fazer se tudo o que ele faz parece deslumbrante? E a Ana sim, ele tem uma cara de completamente dissimulada! – eles riem juntos – Mas ela é super querida, trata bem todos os alunos... E é por isso que eu tento, ela é legal.
- Então maninha, tenta um pouco mais... será tortura, mas não por completo...
Eles subiram a Dr. Barcelos como quem sobe o morro e ainda pararam embaixo de uma árvore, para conversar e bebericar um pouco mais da cerveja.
- Eu gosto daqui, sabe... Tristeza... o nome é tão bonito quanto o bairro.
- Tenho saudades de morar aqui, apesar de meu bairro também ser legal.
- Teu não se compara ao meu, né Edu!!! Olha onde tu mora, no Moinhos de Vento, aaaa, vai te catar!
- Hahaha, mas não tem clubes com vista pro Guaíba, nem toda essa melancolia que tu tens aqui. Gosto da Zona Sul, parece menos cidade... apesar da minha rua ser tranquila.
Ela deita a cabeça no ombro de Edu e cochila... uns minutos depois, ele cochila também. Tão queridinho o jeito como eles adormecem. Acordam com o barulho do primeiro Liberal passando na esquina e vão para casa.
- Onde vocês andavam? Vocês sabem que horas são?
- Sim mãe... estávamos aqui na rua, não precisava se preocupar.
- Estou indo para o serviço, filha. Tem lasanha na geladeira, depois tu e o Edu almoçam direitinho, tá?
É incrível como crescemos e as mães continuam a tratar-nos como se fossemos criancinhas... Edu riu e resmungou um “tchau, tia”, enquanto Dona Lia se retirava.
- Edu, sabe quem vai vir aqui amanhã? Ou melhor, hoje?
- Who?
- A Luíza.
- Mas ela não tá no Canadá? Hahahahahaha
- Haha, muito engraçaaaado! Tu sabes beeem onde a Luíza está, não é mesmo?
Luiza era uma amiga de Flávia, a vizinha de Clara. Edu era apaixonado por ela. Como ele mesmo dizia “não consigo resistir ao perfume que ela usa e aos sapatinhos vermelhos. Luíza me encanta!”
Clarinha dormiu no sofá e Edu em um colchão, na sala também. Acordaram com a campainha tocando, era Flávia. Edu atendeu a porta.
- Oi Eduuuuuu! Tua prima tá por aí?
- Tá sim, entra aí!
- E aí maluca! – resmungou Clara, ainda deitada.
- E aííííí! A Luíza vai chegar daqui a pouco, disse pra ela vir aqui direto.
- Tá bom... que horas são mesmo, hein?
- 14h50. – disse Edu – Shall we lunch?
- Yeeep. Let’s go!
Flávia era novinha, tinha 13 anos e falava muita besteira. Mas como era adiantada em sua escola, andava só com um pessoal mais velho. Enquanto Edu e Clara almoçavam, Flávia falava pelos cotovelos até que tocou a campainha. Edu foi correndo atender. Era ela.
- Oi Edu.
- Olá, Dorothy!
- Sempre viajando nos meus sapatinhos vermelhos... – ela solta uma risadinha e entra.
- LULUUUUUUUU – Flávia faz seu fiasco diário ao encontrar uma amiga.
- E aí maluca número 2! – diz Clara.
- Hey yo Silver! – responde Luíza, fazendo uma careta. – Quanto tempo, não é mesmo?
- Pois é guriazinha... e o Edu ainda é fissurado nos teus sapatinhos vermelhos!
Luíza era uma guria bem bonita. Cabelos não muito curtos, castanhos, aquele tom diferenciado, meio que puxando pro ruivo, mas natural e todo picotadinho. Ela tinha todo um estilo: calça jeans que ela pegou das roupas da avó, direto dos anos 50, blusinha de botão, num xadrez azul marinho com branco e, como sempre, os sapatinhos vermelhos do Mágico de Oz. Ela tinha lá seus 15 anos, mas parecia ter uns 19, tanto de rosto, como de corpo ou pela inteligência.
- Então Gasoline Girl, vamos jogar CS?
- CS não né, Summertime Cowboy!
- Flávia, acho que estamos sobrando nessa brincadeira...
- Shiiiiu, cala a boca, Clara! É capaz de ele nos convidar pra jogar CS, daí!
Enquanto Flávia e Clarinha riam e conversavam sobre qualquer coisa, Edu e Luíza ficavam falando de jogos e se apelidando com nomes de músicas, atores, filmes e bandas... era isso que Luíza gostava nele. Era isso que Edu gostava nela. Eles combinavam, eles se gostavam, todos viam. Menos Luíza.
- Gente que calooooooor! – Flávia resmunga – Por que não vamos lá pra rua?
- Lá está quente igual, Flavinha.
- Mas pelo menos tem vento.
- Tá, vamos então. – diz Luíza – Isso está com cara é de escolha da Clarinha, não é? Esperando pra ver se o Claus aparece.
- Cale a boca, Luíza. Não tem nada a ver comigo, não.
Descendo as escadas, dão de cara com Ana, a esposa do professor de Clara. Ela resmunga um “oi, boa tarde” e eles sorriem.
- Tudo bem, Clara? Pensou naquilo que te falei?
- Edu, me esquece...
Edu, Clara, Flávia e Luíza caminhavam pela Dr. Barcelos e esqueciam um pouco do calor. Andavam em direção ao Guaíba, tomando sorvete, conversando as besteiras que todo adolescente conversa. Namorados, amigos, professores, deboches, e coisa e tal. Apesar da diferença de idade, todos se davam bem.
Se Edu vai ficar com Luíza? Talvez. Nunca se sabe quando um amor leviano pode dar certo.
Se Clara consegue conquistar o professor? Obviamente não, mas daqui uns cinco anos, quem sabe?
E Flávia, um dia ela vai amadurecer e perceber o mundo como gente grande? Certas pessoas nasceram para ser a alegria que movimenta os dias monótonos de trabalho pesado.
Mas sempre há algo interessante para aprender no calor de Janeiro, em Porto Alegre.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Sorte, Marina

De que vale você ter amigos de carne e osso quando o único amigo que realmente te entende está lá do outro lado da rede e você nem sabe se ele realmente é aquilo que diz.
-Marina, você sabe que eu te adoro?
-Sei Lucio, mas e você sabe que eu não?
-Não precisa dizer assim na cara, não é?
-Sabe, ser adolescente é andar em uma estrada cheia de bifurcações. Você escolhe um lado e daqui a pouco se perde, mas quando você chora porque se perdeu, aparece outra bifurcação e ela te mostra um caminho iluminado, estilo Revolução Francesa. Você se apaixona no meio desse caminho e daí surge um buraco e sua amada vai embora. É isso o que acontece com a gente.
-Eu não sei, Marina. Ou eu já passei por isso e foi tão despercebido que não analisei desse jeito. Minha adolescência foi muito boa.
-Que sorte a sua. Acho que as gurias geralmente são mais complexas com isso. Mas com certeza você conheceu alguém, além de mim, que também sofria por não gostar de ser adolescente.
-Talvez. Talvez o nome dela fosse Marina também, haha.
-Não brinque. Quando vamos nos encontrar?
-Quando você quiser.
-Posso sair de casa agora?
-Onde você vai?
-Onde você não quiser.
-Então me encontre ali na Barros, mais pro lado da casa do filme, ali, no inicinho da Cristóvão, ok?
-Tudo bem.
Pegou o ônibus, era um tanto perto de sua casa, porém não se arriscou a caminhar. Ela vestia uma camiseta do David Bowie e uma calça apertada. Lucio tinha cara daqueles argentinos sem-vergonha que se vê nos filmes que concorrem no festival de Canes. Ela gostava dele. Ele gostava dela. Eles não suportavam um ao outro.
-Chegou rápido, senhora atrasada.
-Cale a boca, você é quem sempre atrasa!
-E o meu beijo?
-Quando eu realmente souber quem tu és, receber-lo-há.
-Sou eu, Lucio, nascido em Uruguaiana, bem antes de você pensar em nascer. Quando você brincava de boneca e não sabia o que era sexo, eu já sabia muito bem o que era isso.
-Eu não brincava de boneca. E você mente, não é tão velho assim!
-Ah, esqueci que tu eras o menininho da casa. Como está tua mãe? Eu conheço ela de Uruguaiana.
-Mentiroso... nem ao menos sabes o nome dela! hahaha!
-Vamos fugir, Marina?
-Pra onde?
-Pra minha casa.
-E por que eu aceitaria?
-E perderia a oportunidade de sua vida?
-E desde quando essa é a oportunidade da minha vida?
-Desde que começamos aquela conversa louca na comunidade do David Bowie, lembra? Eu sabia que você estaria com essa camiseta, hahaha.
-Lembro...Dê-me alguns dias para pensar e lhe responderei.
-Não demore. Eu posso encontrar alguém que queira mais rápido do que imaginas.
Marina torceu um bico e ele pegou em sua mão. Lucio a olhou nos olhos e ela soltou a mão. Havia decidido. Nunca teria tanta sorte na vida...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Sug. O Que É o Amor pra VOCÊ?

amor é esperar que ela venha no próximo ônibus, mesmo sabendo que ela está bem longe

Too much to ask? Go on.