segunda-feira, 15 de abril de 2013

Cecília

E ele desafina, mas quem disse, menina, que só porque a gente canta todo dia, todo dia tem que cantar bem?
A garganta seca com a alma e a vida esfria. Esfria.
Todas aquelas cartas de baralho, barulho, cortinas azuis, metáforas podres.
A gente desafina todo dia, mas canta bonito, canta com alegria.
Quem disse, menina, quem disse?...
Que todo dia o sol tem que sair e iluminar tua tez pálida, que toda noite a lua te acompanha ao caminhar pela Andradas, que todo dia os rostos esmaecidos sorrirão...
Quem disse, menina, quem dirá...
E ele anda desengonçado de tão grande que é, de tão magro, de tão fino, que ela nem consegue um canto para se escorar.
Cecília bonita, baixinha, engraçadinha. Mas é triste, triste, triste...
A garganta seca com a alma e a vida esfria. Tomara que esquente.
A esperança vai morrendo e os dias se passam. O calor é de 40ºC. O coração é russo.
Cecília bonita, baixinha, engraçadinha. E ninguém para dizer isso a ela.
E tem ninguém, não. Tem ninguém não pra dizer que o sol vai sair, namorar o frio e deixar o dia bonito. Tem ninguém não pra dizer que a vida vai seguir determinado caminho. Tem ninguém não pra mostrar que tem lado bom viver sozinho. Tem ninguém, não. Não tem alguém. Tem ninguém.
A esperança vai morrendo e os dias se passam. O calor foi embora. Imagina o coração.
Ela caminha tarde da noite na Andradas e os pensamentos se perdem.
Mas quem é que pensa nisso, menina, quem há de pensar...
Mas quem é que acredita nisso, menina... Isso nem é de acreditar...
Mas quem é que te alimenta os amores, menina... Isso não se faz.