domingo, 25 de agosto de 2013
do amor ou do (des)gosto de agosto.
Mês de cachorro louco é fevereiro: nesse mês eles espumam confetes e serpentinas, e adoidados procuram bundas e peitos e se fartam em carnes venenosas. Não venha maldizer de meu agosto, que deu-me vida e friozinho com sol, que só enlouquece quando furioso esquenta, que alenta o coração de tuas amadas - essas sim mui desvairadas - esperando primavera.
sexta-feira, 19 de julho de 2013
Soriano
Encanta-me encantado
Cantando sola
Andando pelas ruas
Chorosa, à toa
Pés nudos
Te desnudo
Listrado, lustrado
Meias-calças rojas
Estás amando mas
Es muy temprano
Tempo de chuva
Olha a janela na lua
Teus cabelos emaranhados
Têm peixes desenhados
Em formato de cruz
Emitem o som da luz
Maria da Ana
Da Mariana
Da Joana
Às sete es muy temprano
Muy temprano...
Então dorme e demora
Pra que eu te leve
Até Santiago.
Cantando sola
Andando pelas ruas
Chorosa, à toa
Pés nudos
Te desnudo
Listrado, lustrado
Meias-calças rojas
Estás amando mas
Es muy temprano
Tempo de chuva
Olha a janela na lua
Teus cabelos emaranhados
Têm peixes desenhados
Em formato de cruz
Emitem o som da luz
Maria da Ana
Da Mariana
Da Joana
Às sete es muy temprano
Muy temprano...
Então dorme e demora
Pra que eu te leve
Até Santiago.
sexta-feira, 7 de junho de 2013
Carmen
Tua voz envolve e enrosca
Arrasta a desgraça
Bem longe de mim
Ah, te ouvir cantando assim...
Me fazes bailar e ditar
Ilusões infindáveis no ar
O meu tom desafina, cai, desfila
E tu és de um jeito que sei nem falar...
Esplendor cheio de graça
Quando chega à praça
As pessoas que passam
Param e ficam a sorrir
Encanta-me ao entardecer
À tua boca vejo o sol nascer
E o anúncio do teu nome ao pé d’ouvido
É belo, é bordado de flor, é amigo.
segunda-feira, 15 de abril de 2013
Cecília
E ele desafina, mas quem disse, menina, que só porque a gente canta todo dia, todo dia tem que cantar bem?
A garganta seca com a alma e a vida esfria. Esfria.
Todas aquelas cartas de baralho, barulho, cortinas azuis, metáforas podres.
A gente desafina todo dia, mas canta bonito, canta com alegria.
Quem disse, menina, quem disse?...
Que todo dia o sol tem que sair e iluminar tua tez pálida, que toda noite a lua te acompanha ao caminhar pela Andradas, que todo dia os rostos esmaecidos sorrirão...
Quem disse, menina, quem dirá...
E ele anda desengonçado de tão grande que é, de tão magro, de tão fino, que ela nem consegue um canto para se escorar.
Cecília bonita, baixinha, engraçadinha. Mas é triste, triste, triste...
A garganta seca com a alma e a vida esfria. Tomara que esquente.
A esperança vai morrendo e os dias se passam. O calor é de 40ºC. O coração é russo.
Cecília bonita, baixinha, engraçadinha. E ninguém para dizer isso a ela.
E tem ninguém, não. Tem ninguém não pra dizer que o sol vai sair, namorar o frio e deixar o dia bonito. Tem ninguém não pra dizer que a vida vai seguir determinado caminho. Tem ninguém não pra mostrar que tem lado bom viver sozinho. Tem ninguém, não. Não tem alguém. Tem ninguém.
A esperança vai morrendo e os dias se passam. O calor foi embora. Imagina o coração.
Ela caminha tarde da noite na Andradas e os pensamentos se perdem.
Mas quem é que pensa nisso, menina, quem há de pensar...
Mas quem é que acredita nisso, menina... Isso nem é de acreditar...
Mas quem é que te alimenta os amores, menina... Isso não se faz.
Marcadores:
amor,
cecília,
metáfora,
porto alegre,
tristeza
domingo, 17 de março de 2013
Vacilos
E assim eu fico, assim fico eu
Oh, os elogios teus
E os chistes para mim...
Que triste, oh, minh’alma fica
Quando me dizes querida
E querida somente sou no prazer
E assim indigno-me, prometo não me entregar
Mas ah, meu corpo treme quando te ouço falar
Que tu me queres nua sobre tua cama
Não adianta, não adianta negar
O meu vacilo é e sempre será
A todos esses amores levianos, alimentar.
sexta-feira, 8 de março de 2013
Pós-conceitos da mente masculina
É a miscigenação que vem e fala: olha que bela mulata!
Pequena, peituda, compacta: e ainda vem com pouca fala!
O rosto deixa a desejar, mas quem importa?! Importa que não
é torta!
Brenda, Bruna, Débora... Bosta! O nome não quer dizer nada.
De onde vem ou do que gosta? Ah, vá à merda! Basta que abra
as pernas!
E assim crescem os pensamentos
sobre a menina que gosta
de literatura erótica.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
Cinco dias de Marilyn
Tem uma época em que tudo é igual. As pessoas, as músicas,
as cantadas, as roupas, os relacionamentos e as opiniões dos teus amigos.
DIA 1: CATAR FEIJÃO
Escrever, descrever. Ela sente uma enorme agonia, olha
através da janela. O vizinho com binóculos – ele esconde o acessório – ela acena
e fecha a janela. A mãe sempre dá um sermão devido à nudez da filha, mas o que
fazer? Ela está dentro da própria casa.
DIA 2: CONVITES
O dia nunca chegará, você nunca será convidada. Fique aí:
assista e espere.
DIA 3: AMORES
Mulheres difíceis, homens previsíveis. Sexo é o que
interessa. Quando interessa.
DIA 4: AMIZADES
Não ligam mais? Que pena... Será que não é resposta a algo
que você fez? Ou será que apenas cansaram desse teu jeito fora do mundo?
DIA 5: VIDA
Em fevereiro, andar de ônibus pode ser mais tranquilo.
Talvez teu signo até apareça na Bus TV. Talvez o T3 fique preso na Silva Só.
Silva só. Só. E você não se chama Marilyn.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
Curtas Gaúchos
Me mostra uma coisa que ninguém nunca viu. Me mostra o que
não importa para outrem. Me dá um beijo de verdade e depois me esquece. Me diz
que eu sou ruim, mas diz que eu sou a pior de todas pra eu sentir que faço bem
até as piores coisas.
As conversas deles só funcionavam com hiperlink, citações
não faltavam, histórias reais e inventadas, as ruas de Porto Alegre eram
descritas com clareza. Será que faltava dizer, fazer, assistir, ou dar?
Lá onde ninguém me via, eu chorava por ela.
Continuar nem sempre é começar por onde havia parado, mas é
começar algo novo e bonito. Às vezes se parece com o que aconteceu, mas nunca é
a mesma coisa. Nem a mesma continuação. Continuar ação. Cinco da manhã, sem
café, sem cigarros, e o cheiro da rua é tão forte, me chama tão alto. Será que
é noite de lua?
domingo, 20 de janeiro de 2013
Das love (hearts on fire)
Sou aquela menina de cabelo curto, roupa preta, sapatos
legais, escorada à parede. Pode me chamar de Nin. Está vendo todas essas
pessoas ao meu redor? Nenhuma até agora veio falar comigo. É a minha festa de
formatura da oitava série e eu não sei o que estou fazendo aqui, ninguém é meu
amigo ou sequer me cumprimenta.
Tenho 14 anos e moro com minha avó. Ela é gente boa, mas tem
que ter paciência. Sempre vamos à praia em fevereiro. E advinha: esse ano não
vamos. Não sei porquê, mas não vamos. Ficar em Porto Alegre é bom quando a
gente sabe o que fazer.
Fui encontrar uma amiga, a única que tenho, Paula o nome
dela. Ela mora em minha rua, e pra falar a verdade, nem sei como nos tornamos
amigas. Acho que ela é diferente das outras gurias, não sei.
Paula fala pra cacete, sempre com assuntinhos sobre amor. “Vocês
sofrem muito por amor pra quem viveu tão pouco”. Ela sempre fica emburrada
quando digo isso. Eu também vivi pouco, e é por isso que não sofro. Deixei de
ser criança semana passada e elas com essas bobagens. Ainda tem muita gente pra
conhecer.
Eu nunca gostei de ninguém. Meninos e meninas me desinteressavam
completamente. “E os namoradinhos?” “Matei todos, tia” – era sempre assim. Às
vezes eu procurava o problema em mim, mas percebi que o problema está no mundo.
Meu mundinho com filmes, música brega e cigarros escondidos da vovó era bem
mais interessante do que qualquer “namoradinho”.
Até que aquela menina escorada à parede viu alguém que não
era seu colega – e era tão estranho quanto ela mesma – estava ele do outro lado
do salão, também escorado à parede, cabelos pretos, terno, tênis, fumando e
olhando para todos com tédio.
- Vejo muito tédio em seus olhos.
- Ah, eu tinha que trazer minha irmã, aquela loirinha
dançando. Você também é irmã de alguém?
(A irmã dele era a mais vagabunda da turma)
- Não, não. Infelizmente, estou me formando também. E não
sei o que estou fazendo aqui. Tem um cigarro?
- Tenho. – ele me olhou por inteiro e me deu um cigarro –
Mas tu não te pareces como essas guriazinhas da idade da Gabriela.
- É um defeito de fábrica, eu acho.
- Talvez não. Elas são meio bobas, tu não me aparentas ser
boba.
- Prazer, Nin.
- Me chamo Gabriel. E acho difícil tocar alguma música legal
aqui, quer ir lá pra fora?
- É um favor que me fazes.
- Legal teus sapatos.
E assim, eu e o Gabriel fomos a noite inteira. Talvez a vida
inteira. Ninguém sabe. Pensando bem, seria ótimo ter alguém assim pra rir e
ouvir música brega.
Assinar:
Postagens (Atom)