Cometemos cerca de 127 equívocos ao pensar que
amamos alguém. A tão esperada frase, por vezes, fica entrelinhada por gestos e
olhares que, num mínimo ponto de ação, cruzam-se e nada mais precisam falar. 10
desses 127 são equívocos sentimentais. Outros, ah, são média para fechar
pesquisa. Quando meu rosto encontra os pêlos do teu peito, penso que é amor.
Porém, antes de equivocar-me, olho e penso que é apenas minha boca aberta,
babando, e dizendo: “nossa, que foda incrível! Posso ir para casa tomar um banho?”
e nada mais. Eu espero o momento certo para dizer que te amo, e o momento
simplesmente não vem. Ah, mas que surpresa! Todos os momentos são meras ilusões
da vida. Penso em mais pêlos de peito do que equívocos cometidos em todo o
sentimentalismo que envolve-me. De fato, seios robustos são mais verdadeiros do
que pêlos. Todavia mais belos. A sensação de rolar no chão é um equívoco
cometido brutalmente por todos os seres humanos. Nem todos gostam de sair
rolando, porém os que gostam, ah, esses enquadram-se nas expectativas – e nos
equívocos. A sensação de amor selvagem é recorrente em paixonites diárias.
Gozar na janela, com um berro ensurdecedor ecoando madrugada adentro na cidade
é lindo. Mas não significa que, em algum momento, eu amei você. São todos
equívocos. Em minha mente, mais de 127. E 127 não é múltiplo de 3. Três: número
de palavras suficientes para preencher a frase tão quista. Eu nunca jurei amor
a quem acreditou na primazia do número três. Três não é suficiente para
equilibrar amor, apenas para malabarizar. E malabarizo a vida, porque nesta
certamente me equivoco muito mais do que nos amores. Certamente são mais de 127
vezes em que penso “te amo” ou que penso em viver mais e melhor, sem a
perspectiva de realmente viver – ou de sair por aí amando.
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